segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Polícia enfrenta desafio para esclarecer crimes misteriosos

16/8/2010


Dois empresários, um comerciante, um advogado e um turista estrangeiro foram vítimas de execuções

Uma lista de crimes misteriosos está em poder da Polícia Civil do Ceará. Foram seis casos de assassinatos cujos autores não foram ainda identificados nem presos e, portanto, permanecem na completa impunidade. As vítimas das recentes execuções sumárias foram um empresário do ramo de informática e telefonia celular, um advogado criminalista, um turista holandês, um comerciante do ramo de caminhões e seu empregado e, ainda, um jovem comerciante.

Os crimes ocorreram entre os meses de maio e julho passados e, apesar de todos os esforços já feitos pelos investigadores de quatro delegacias da Polícia Civil, os crimes se transformaram em desafio para as autoridades. Entre as muitas versões para tentar explicar os assassinatos estão desavenças por conta de negócios, motivos passionais e também vingança.

Crimes

O primeiro dos cinco casos insolúveis ocorreu na tarde do dia 8 de maio, quando o empresário José Silveira Lima Filho, 53, dono de uma revendedora de caminhões, em Messejana, foi fuzilado a tiros de pistola junto com seu empregado, Diego Fabrício Oliveira de Sousa, 22.

O duplo homicídio ocorreu dentro da residência do empresário, na localidade de Telha, distrito de Camará, no Município de Aquiraz.

Desde o dia do fato, a Delegacia Metropolitana de Aquiraz trabalha no caso, mas não conseguiu ainda chegar aos mandantes e executores das mortes.

O segundo crime misterioso teve como vítima o jovem Tárcio Olivier Evangelista, 24, que acabou sendo assassinado no dia do seu aniversário, em 25 de maio. O caso está sendo apurado no 4º DP (Pio XII) e há suspeitas de que a vítima tenha sido atraída para o local do crime através de uma ligação recebida em seu celular horas antes do desfecho sangrento. Depois de deixar a namorada numa faculdade, Tárcio seguiu em seu veículo Cross Fox até um posto de combustível na Avenida Borges de Melo, próximo à Rodoviária. Quando ali chegou os assassinos já o esperavam.

Tárcio Olivier recebeu vários tiros de pistola à queima-roupa e morreu ainda na direção do automóvel.

A sequência de execuções sem solução teve prosseguimento no dia 31 de maio, quando o advogado criminalista e piloto de carros de corrida, Antônio Jorge Barros de Lima, 47, que era também presidente da Associação dos Pilotos de marcas e Endurance do ceará, teve seu corpo deixado na caçamba de uma picape Montana no bairro Guajiru, em Messejana.

Misterioso

Desde aquela data, a Polícia tenta, sem êxito, montar o ´quebra-cabeça´ para chegar a autoria e os motivos da morte do advogado e desportista. O caso se arrasta no 35º DP (Curió), apesar do acompanhamento da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Até agora, a Polícia só conseguiu de positivo em torno do caso foi elaborar o retrato falado de uma mulher que teria atraído o advogado ao local onde ele acabou sendo assassinado como vários tiros. A suspeita é de que um detento tenha ordenado, de dentro de um presídio local, a morte do advogado. O crime seria uma espécie de ´acerto de contas´.

O quarto caso é ainda mais misterioso. Trata-se da morte do turista holandês Menno Koning, 37, assassinado, a tiro, na noite de 1º de julho último. O crime ocorreu no meio da rua, no bairro Jangurussu, na periferia de Fortaleza. O corpo do estrangeiro passou nove dias como indigente numa geladeira da Coordenadoria de Medicina Legal até que fosse identificado. O caso está sendo apurado pela Delegacia de Proteção ao Turista (Deprotur), que já pediu o auxílio da Interpol para tentar esclarecer o mistério.

Segundo a delegada Adriana Arruda, o holandês deveria ter regressado ao seu país no dia 7. No local onde o corpo do estrangeiro foi encontrado - Rua Maria Alves Ribeiro - os moradores dizem que nada viram.

Empresário

Completa a lista dos crimes misteriosos a morte do empresário cearense Francisco Francélio Holanda Filho, 43. Ele foi assassinado, a tiro de pistola, na noite de 8 de julho passado no cruzamento das ruas Padre Valdevino e João Cordeiro, na Aldeota. Francélio, dono de uma conhecida loja de celulares em Fortaleza, foi fuzilado quando seguia em sua caminhoneta importada em direção à sua residência. Ele foi perseguido por dois pistoleiros em uma moto preta e alvejado à curta distância. Baleado, ele perdeu o controle do veículo, que bateu contra um poste da rede elétrica e um transformador de energia caiu sobre o automóvel, causado um pequeno incêndio.

A morte de Francélio virou um enigma para as autoridades da Segurança Pública.

Sangue

1.021 homicídios foram registrados na Grande Fortaleza entre os dias 1º de janeiro e 31 de julho deste ano. A maioria dos casos permanece sem solução e seus autores na impunidade.

IMPUNIDADE

Mais de 2 mil inquéritos sem solução

Prevista para ser entregue em fevereiro último, a Divisão de Homicídios não tem data para iniciar trabalhos

A própria Polícia Civil estima que, atualmente, cerca de 2.100 inquéritos que tratam de casos de assassinatos ocorridos na Grande Fortaleza nos últimos três anos estão sem solução. Cerca de 1.300 deles foram retirados das delegacias distritais onde estavam arquivados e levados para a sede da Academia da Polícia Civil, onde uma espécie de força-tarefa estaria tentando elucidar os casos.

Um grupo de promotores de Justiça esteve, recentemente, na Academia e saiu de lá surpreso e decepcionado com o que viu. O sentimento deles é de que a Polícia Judiciária do Estado não terá como esclarecer todos os casos e, portanto, dezenas de criminosos ficarão, definitivamente, impunes.

Enquanto isso, um prédio suntuoso está sendo construído para abrigar, ainda este ano, a Divisão de Homicídios, em Fortaleza. O novo órgão da Polícia Civil cearense, que deveria começar a funcionar em fevereiro passado, conforme promessas do governador Cid Gomes, ainda não tem sequer data prevista para a inauguração da sede. E o pior. Nem mesmo ´no papel´ o órgão existe, pois não foi ainda criado de acordo com a lei. Como um ´fantasma´, a Divisão de Homicídios "já vai nascer morta", segundo declarou, recentemente, um conceituado delegado da Polícia Civil. Segundo ele, apesar da luxuosa sede que está sendo construída, a Divisão vai contar com apenas seis delegados, 15 inspetores e seis escrivães.

Investigar

Dos seis delegados, um deles (Rodrigues Júnior) será nomeado diretor do órgão e outro será o seu vice. Restarão apenas quatro delegados para comandar, efetivamente, as investigações de centenas de casos de homicídios ainda sem esclarecimento. Ainda na semana passada, a Polícia começou a montar a equipe, mas escrivães e inspetores serão tirados das delegacias onde hoje estão lotados. Eles já passaram por um curso de investigação de homicídios.

Enquanto isso, as execuções sumárias continuam sendo registradas em Fortaleza, tendo como principais vítimas jovens usuários de drogas.

LIGAÇÕES

Fatos conexos são apurados em sigilo

Um estrangeiro que já foi presos pela Polícia Federal estaria por trás de casos que ainda não foram elucidados

Crimes conexos, ligados a negócios. Esta é a uma das linhas que a Polícia segue na tentativa de esclarecer sigilosamente alguns dos assassinatos misteriosos envolvendo empresários e comerciantes em Fortaleza.

A morte do empresário Francisco Francélio Holanda Filho é um desses casos. A Polícia não descarta a hipótese de a execução de Francélio estar ligada a outro evento criminoso ocorrido após a morte dele. Tratou-se de um duplo assassinato ocorrido no último dia 2 numa residência do Conjunto Esperança, na zona sul da Capital, quando foram mortos o comerciante Carlos José Medeiros Magalhães e a mulher dele, Maria Elizabete Almeida Bezerra.

O titular do 4º DP (Pio XII), delegado José Munguba Neto, prefere se manter cauteloso quando às investigações em torno do fato. No entanto, a Reportagem obteve informações de que, ´por trás´ da morte de Francélio haveria uma organização criminosa envolvendo, entre os suspeitos, um grande comerciante estrangeiro estabelecido em Fortaleza há vários anos e que já chegou a ser preso pela Polícia Federal por crime de contrabando de produtos de informática. Na mesma linha de investigação, este mesmo estrangeiro seria o suspeito do atentado sofrido por um chefe do setor de fiscalização da Alfândega no Porto do Mucuripe.

Medo

A Polícia enfrenta dificuldades para chegar à organização criminosa, visto que testemunhas não aparecem e nem mesmo familiares das vítimas se dispõem a falar, temendo represálias. Assim, o estrangeiro que seria o ´cabeça´ da quadrilha vem se safando das acusações e continua livre.

FERNANDO RIBEIRO
EDITOR DE POLÍCIA

FONTE: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=832951

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