domingo, 20 de março de 2011

Secretário quer Ronda "proativo"; especialistas criticam

No meio acadêmico, nova orientação é vista como desvirtuamento do programa de polícia comunitária


O novo modos operandi trazido ao sistema de segurança pública do Ceará pelo secretário coronel da Polícia Militar Francisco José Bezerra Rodrigues já chegou ao principal programa de segurança pública instituído pelo governador Cid Gomes: o Ronda do Quarteirão. Ao assumir chefia da Segurança Pública, uma das primeiras medidas de Bezerra foi reorientar a atuação do programa.


O secretário parte do diagnóstico de que o Ronda, mesmo sendo um batalhão de polícia comunitária, necessita ter mais “proatividade”. Na prática, explica Bezerra, haverá o fortalecimento da atuação operacional do Ronda. Já houve, inclusive, mudanças no treinamento dos soldados, que agora passam por uma requalificação constante. “A cada três dias de trabalho, os soldados do Ronda passam por um dia de treinamento”, explica.

O coronel Gomes Filho, comandante-geral do Ronda do Quarteirão, confirma que o programa passa por uma fortalecimento do caráter operacional. “Os soldados do Ronda são agentes da Polícia Militar, não agentes de combate à dengue”, justifica ele. Mas apesar do discurso de dureza em nome da construção da paz, Gomes Filho garante que o aspecto comunitário do Ronda também está sendo observado e também será fortalecido.

Má notícia

O fato de o Ronda adotar caráter de policiamento operacional é criticado no meio acadêmico. Há o diagnóstico de que isso representa uma desvirtuação do fundamento sobre o qual o Ronda foi criado: o policiamento comunitário. A designação de policiais militares para fazer a segurança em uma mesma área em dias continuados tem como objetivo, segundo explica o secretário Francisco Bezerra, a consolidação de um vínculo entre a população que necessita se sentir segura e os policiais escolhidos para contemplar essa necessidade social.

“Mas acontece que o Ronda acabou se distanciado disso e assumiu uma operacionalização mais ostensiva. Quer dizer, houve uma desarticulação com outras tropas e o programa desempenhou um papel que não era exatamente seu, ficou sozinho no front, e acabou deixando a desejar no contato com a população”, avalia o sociólogo Geovani Jacó Freitas, pesquisador do Laboratório Conflitualidade e Violência (Covio), da Universidade Estadual do Ceará (Uece). “Esse fato abalou a credibilidade alcançada a partir dos bons resultados no início do programa”.

O coronel Gomes Filho considerou natural que o programa ganha caráter mais comunitário e ostensivo ao mesmo tempo. Segundo ele, essa necessidade é fruto natural de um processo de amadurecimento do programa. Mas neste ponto há divergência entre o comandante do Ronda e o acadêmico que estuda a violência urbana. Para Jacó, a função comunitária deve ser prioridade para que os cidadãos comuns tenham mais confiança do poder de polícia oferecido pelo Estado. (Pedro Alves)

FONTE:http://www.opovo.com.br/app/opovo/politica/2011/03/19/noticiapoliticajornal,2115339/secretario-quer-ronda-proativo-especialistas-criticam.shtml

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